Decorreu no passado dia 7 de Abril no Centro de Congressos de Aveiro o seminário dedicado à saúde sob duas rodas. Fui cedo, bastante cedo até, montado numa das minhas bicicletas clássicas. A intenção era ver quantas pessoas iriam chegar de bicicleta.
O meu caminho passou pela chamada rotunda do queijo ou para quem não está familiarizado com o nome é a rotunda da EN109 que tem saída para a Lourenço Peixinho por baixo da linha de ferro. Esta rotunda está envolvida por uma ciclovia vermelha que quase não é utilizada. A ciclovia acaba na passadeira e ai é esperar que os automobilistas nos deixem passar. Às vezes esperar bastante pois é uma rotunda bastante movimentada em hora de ponta e ninguém está para deixar passar uma bicicleta. Mas já se sabe que quanto mais depressa mais devagar e foi exactamente isso que aconteceu enquanto esperava para atravessar a passadeira. Uma rapariga lá se lembrou do que aprendeu na escola de condução e parou. Atrás dela vinha um homem demasiado confiante no carro, sem atenção ao que ia a fazer e sem reparar que estava uma manhã húmida. Travou mas não foi o suficiente para imobilizar o veiculo na estrada escorregadia. Ao mesmo tempo na outra faixa passa um veiculo em grande velocidade na passadeira. Policia havia mas essa estava com as mãos atrás das costas a olhar para o transito e pouco se interessa pela segurança dos peões. Segui a minha vida enquanto os automobilistas ficaram a esbracejar.

Ora bem, enquanto esperava em frente ao Centro de Congressos assisti ao seguinte: chega um carro de gama alta que à falta de estacionamentos perpendiculares à estrada resolve estacionar nos paralelos que estavam livres. Por algum motivo o automobilista não estava contente e ando para trás e para a frente a escolher o melhor lugar apesar de serem todos iguais. No sitio onde me encontrava estava uma passadeira que liga a frente da Fábrica Jerónimo Pereira de Campos ao relvado do outro lado da estrada. Foi precisamente em cima da passadeira que o automóvel foi estacionado. Dei umas voltas ao veiculo e reparei na placa de estacionamento autorizado do Centro de Emprego. Também é autorizado em cima da passadeira? Dai a pouco a policia municipal passa ao lado do veiculo mas estou desconfiado que se pudessem também estacionavam em cima da passadeira. Nem sei se esta policia pode fazer alguma coisa pois já são tantas que nem sei quem faz o que. O estacionamento em cima das passadeiras foi uma constante ao longo do dia.
Quanto às pessoas que chegaram de bicicleta para o seminário não posso dar um numero mas foram poucas, eu próprio, um médico que não sei o nome, uma pessoa da Massa Crítica que mais uma vez não sei o nome e outras que não sei referenciar por isso diria entre 5 e 10.
A coisa não começou a horas e quando começou realmente a chegar gente assustei-me. Fatos, gravatas, saltos altos e passou bem como está meu caro engenheiro doutor professor. Comecei a pensar se seria aquele povo que iria fazer algo pela bicicleta. Não que estivessem desenquadrados, o seminário era precisamente dirigido a eles, talvez fosse eu o desenquadrado, mas aquela imagem para mim nada tinha a ver com o estilo de vida em duas rodas sem motor.
Se houve excelentes oradores também houve quem fosse fazer figuras tristes como o Dr. José António Nobre Santos se não estou em erro. Tudo somado deu para aprender bastante sobretudo e quase exclusivamente por culpa dos médicos bons oradores: Dr. Basil Ribeiro, Dr. Simões Pereira, Dr. José Alberto Duarte e peço desculpa se me está a falhar alguém.
Das personalidades ligadas à politica nada se aprendeu. Discursos floreados e ocos que bem apertados resultam em “nós fizemos, nós podemos e nós é que somos os maiores” e mais um balde de areia para os olhos.
Com atrasos vergonhosos, importa relatar a ultima actividade do dia. A mesa redonda Saúde-Mobilidade-Alimentação e Actividade Física. Importa relatar, para mim, porque foi a única altura em que participei. Essa participação resume-se mais ou menos assim se a memória não me falha:
A Câmara Municipal de Aveiro gosta muito de se congratular no que diz respeito à Buga. Pois eu penso que não tem nada que o fazer. As bicicletas estão num estado miserável, ferrugentas e desafinadas; não existe um posto de Bugas à saida da estação da CP apesar de lá estarem Bugas acorrentadas. Ao se optar por fazer ciclovias estas devem ser feitas em condições como é óbvio. A ciclovia por baixo da linha da CP em direcção a Esgueira está tão degradada que muitos ciclistas mais idosos acabam por utilizar a estrada em vez da ciclovia. Mais, como é que a câmara pode falar em mobilidade quando a zona histórica da cidade continua aberta ao trânsito com estacionamento em cima dos passeios por todo o lado.
Recentemente sai do centro da cidade para a periferia e apesar do numero de pessoas que usa a bicicleta não existe uma ligação segura até Aveiro e são os próprios transportes públicos que muitas vezes mais metem em risco a vida dos ciclistas. Por fim não é preciso ir muito longe, basta sair deste edifício para vermos dois carros de gama alta estacionados em cima de uma passadeira.
Fui respondido pelo Ex-Vereador Belmiro Couto, responsável pelo projecto Buga e utilizador diário de bicicleta, bem haja por isso. O problema é que a resposta não esteve à altura do seu interesse em politica de mobilidade. Respondeu baseado nas obras e inovações do passado e utilizou o argumento idade para me inferiorizar:
Jovem, se calhar não se lembra que não é do seu tempo mas à 30 anos já Aveiro tinha vias destinadas aos ciclistas para as deslocações dos operários na EN109…
Gostava de saber o que é que a idade tem a ver para o caso. Gostava de saber o que é que as obras de à 30,20 e 10 anos tem a ver para a resolução dos problemas actuais. Se calhar se eu tivesse levado uma gravata em vez de uma tshirt cor de rosa já não era o jovem que não tinha idade para se lembrar das obras. Aclamou ainda que na altura que a ciclovia foi feita em direcção a esgueira foi uma inovação!! Pois muito bem, que tenha sido, agora não precisa de manutenção? É óbvio que não me referia ao passado! É óbvio que me referia à utilização da Buga como argumento válido no presente. Mas acabei por ser impedido de responder. No entanto tenho que concordar num ponto com o Belmiro Couto: apenas devem ser construídas ciclovias em locais que sejam claramente perigosos para os ciclistas, nos restantes deve haver uma circulação conjunta e respeitosa de ciclistas, peões e automóveis. Defendeu ainda que se é obrigatório a construção de garagens nos edifícios novos porque não é obrigatória a construção de arrumos para a bicicleta? Se para ir às compras tenho a bicicleta na garagem atrás do carro acabo por levar o carro primeiro. Apesar da ideia de garagens para bicicletas ser interessante não sei se concordo inteiramente. Se a força de vontade e a mentalidade assim o indicar não custa assim tanto tirar a bicicleta de trás do carro. Possivelmente passa a estar à frente. Outros assuntos importantes no campo da mobilidade em Aveiro foram abordados mas a resposta foi sempre esquiva ou baseada em negociações de pacotes financeiros.
Por fim o presidente da Câmara de Aveiro teve a coragem de dizer que se construiu futuro naquele seminário… mais palavras bonitas de politico.
Comments (2)
Da Massa Crítica, é capaz de ter sido o Casaínho, bem como a Ana Jervis.
[Responder]
usaralho Resposta:
Abril 15th, 2009 às 2:21 pm
O Casaínho acho que não mas bem me parecia que era Ana o nome que me faltava. É preciso dizer que fez um óptimo trabalho de divulgação da Massa Crítica com panfletos distribuídos mão a mão, pequenos cartazes e até o portátil com o site.
[Responder]