Tenho dito muitas vezes que este serviço não serve para nada a não ser para propaganda política. Por dizer tal coisa, muitas vezes cai-me o carmo e a trindade em cima! Resolvi então experimentar passar um dia na companhia da Buga, experimentar estas bicicletas para dar mais fundamento ao que digo. Vamos lá!
Localização: A Loja BUGA fica numa posição central da cidade, o que por si não é problema. Passa a ser problema quando se verifica que é o único ponto de recolha e entrega da bicicleta Buga! Ora, para grande parte da população chega mais depressa a pé ao destino do que ir buscar a Buga e só depois ir para o destino.
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Horário:imaginemos que até vivemos perto da loja Buga. Imaginemos que até adquirimos o hábito de ir para o trabalho de bicicleta. Imaginemos que não podemos ter uma bicicleta no apartamento. Imaginemos que, como seria natural, pensamos em usar a Buga para esse fim: ir para o trabalho. Não podemos. A menos que guardemos a bicicleta Buga em casa indo contra as normas de utilização da bicicleta. Ah mas não podíamos ter bicicletas em casa não era? Isto porque a loja Buga só abre as portas às 9, hora em que a maior parte das pessoas já tem que estar no trabalho.
Juntamos a localização e o horário e já são dois graves entraves à utilização da BUGA.
Requisição: basta entregar um documento identificativo para levantar a bicicleta. No meu caso levantei duas bicicletas, para dois utilizadores, deixando o cartão de eleitor. Nem sempre foi assim mas penso que o vandalismo levou a esta situação. Ainda se vêm algumas bicicletas com o sistema tipo carrinho de super mercado. É fornecido cadeado se necessitarmos dele. Depois é escolher qualquer uma das bicicletas estacionadas. A tarefa torna-se complicada ao verificarmos o estado das Bugas. Alguma coisa tem que estar sempre partida, torta, ferrugenta.
Condução e análise da BUGA: a bicicleta Buga é, de forma geral, uma bicicleta bastante confortável. Montadas pela extinta Macal (não sei se todas mas uma grande parte), ostentam componentes de boa qualidade, até surpreendentes numa bicicleta de utilização pública. O quadro característico distingue-se à distância, quer pela sua forma e cor, quer pelos painéis publicitários que servem de saias às rodas. Infelizmente são poucas as empresas que aderiram a este tipo de publicidade.
Passemos às peças que constituem a bicicleta. A transmissão fica a cargo de um excelente Sturmey Archer com travão de cubo ou de um Shimano Nexus. Ambos de 3 velocidades, estes cubos de mudanças internas são uma aposta certeira para o tipo de terreno da cidade. Infelizmente quem trata da manutenção das Buga não deve perceber muito de bicicletas e têm os cubos completamente encharcados de óleo. Este problema é mais grave nos que têm travão no cubo visto que óleo e travões não se dão muito bem. Aliás, a bicicleta que escolhi não se conseguia imobilizar. Apenas sofria um abrandamento ligeiro. Isto é bastante perigoso até para alguém experiente e não acontecem acidentes porque na verdade as bicicletas não são muito usadas.



É rara a bicicleta que tenha a travagem a funcionar em pleno. O facto de as manetes não serem de plástico contribui para não agravar ainda mais esta falha descomunal. Nota-se mais uma vez que são bicicletas bem construídas. É também rara a bicicleta que não tem os selectores de mudanças partidos. Felizmente funcionam. Compreende-se que a vandalização torna pouco viável a mudança imediata de cada componente assim que se parte, no entanto não deixa de passar uma imagem negativa. Mais negativa é os cestos brancos sobre a roda dianteira completamente tortos, partidos e ferrugentos.
Quanto aos pneus são de várias marcas e de várias medidas. Estão, na maioria dos casos, em boas condições de utilização. A minha bicicleta tinha ainda um curioso pormenor, o selim preso por um parafuso… por cima do selim! E ainda… um eixo pedaleiro que me parece soldado. Seja soldado ou não, saúde não tem. Delicioso o desprezo e manutenção negligente a que estas bicicletas estão sujeitas!




É ainda de salientar a falta de estacionamentos para bicicletas pela cidade, mas para isso qualquer poste serve. Apesar de tudo, é uma bicicleta que desenrasca.
Concluindo, para que serve a Buga?
Para deslocações diárias sistemáticas para o trabalho? Não.
Para ligações entre a estação de caminhos de ferro e a restante cidade? Não.
Para ligar a cidade de uma ponta à outra sem necessidade de utilizar transporte poluente? Não (é preciso ir primeiro à loja)
Quais as condições para utilizar a Buga? Viver perto da Loja Buga, ter tempo livre… ou ser turista com mente aberta. No passado, a intenção foi boa, os resultados práticos é que não satisfazem hoje em dia.
Comments (2)
Estimado amigo:
De facto tem aqui uma bela peça de jornalismo interventivo.
As suas conclusões e os argumentos que apresenta são irrebatíveis.
Será que algum dirigente com responsabilidades no nosso órgão governativo desta cidade leu o seu artigo? Se não o fez deveria fazê-lo!
Se de facto o futuro passa pela utilização da bicla (espero que não à maneira da China) um projecto como o da Buga deveria ter outro alcance para além da propaganda política.
Um bem haja.
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usaralho Resposta:
Setembro 15th, 2009 às 3:55 pm
Obrigado!
Parece que os políticos não gostam muito de criticas por parte dos eleitores 🙂
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