- BRM 200 km Tejo-Sorraia-Tejo (11/02/2011)
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Quem mete na cabeça que tem que fazer 400 quilómetros de bicicleta numa só assentada não pode bater bem da tola. É de espantar portanto que já esteja a pensar nos 600 depois de concluir com sucesso a voltinha de Vila Franca de Xira ao Alqueva, ainda com as pernas a queixarem-se.
A minha logística para este ano foi algo diferente. Fui sozinho, de comboio, umas horas antes. Tive tempo para montar a tenda, ir às compras de bicicleta, jantar e descansar. Ou melhor, fingir porque é para mim muito difícil adormecer com a ansiedade que aumentava a cada minuto. Tenho que confessar que provavelmente não parti com o melhor descanso possível e será uma táctica a repensar.
Mal senti os primeiros randonneurs presentes no local de partida levantei-me logo. Bike check e demais formalidades e foi só esperar. Não me sentia extremamente confiante e ia revendo na cabeça todas as coisas que tinha na bicicleta para ver do que me esquecera. Afinal já tinha deixado o colete e uma caneta em casa. Ao mesmo tempo, e como é normal em mim, procurava indícios de bicicletas clássicas mas desta vez fui o único. De salientar uma Dawes que é o mais aproximado a uma randonneur que por se lá viu. O resto são adaptações, incluindo a minha. Não é que isso seja extremamente importante, cada um pedala com o que tem, gosta ou conhece, afinal já fui de pasteleira.
Acabei por acompanhar a randonneuse Angela nos primeiros quilómetros ao ritmo de uma conversa sobre a modalidade, a sua bicicleta nova e outras coisas relacionadas com o ciclismo. Eu queria andar um bocadinho mais depressa e acabei por abandonar definitavamente a companhia na rotunda de Pegões.
Na minha cabeça, os primeiros 200kms seriam os mais rolantes e queria aproveitar. Provavelmente isto é só uma ilusão potenciada pelos episódios do ano passado e acabei por me esticar um bocado. A primeira paragem foi numa estação de serviço de Montemor-o-Novo onde um café e uma nata serviram de combustível, mais a empada para o caminho. As mesas tinham sinais de lá terem estado randonneurs mas só um ainda se debatia com um furo, o resto tinha desaparecido. Troca de meias e siga para Évora!
Quando cheguei a Évora pensei “epá, isto está a correr bem, o ano passado cheguei aqui quase de dia”… excusado será dizer que estas lembramças me iam dando alento para andar rápido, dentro das minhas possibilidades. Não sei em que localidade o sol nasceu mas os primeiros raios de sol foram uma benção para mim. A noite estava fresca e estou fartinho de frio!
Finalmente apareceu a água do Alqueva. Carago, já não falta tudo para o primeiro posto de controlo, pensei. Atravessei as manchas de água a pensar em politiquices.
Psicologicamente foi muito bom chegar ao primeiro posto de controlo e ver pessoal a preparar-se para sair. Significava que estava a andar bem. Não me preocupei em os acompanhar, demorei o meu tempo, comi, descansei… tinha muitas horas pela frente e isto não é uma corrida.
Depois desanimei um pouco. Os raios de sol deram lugar a um nevoeiro intenso e a uma brisa que começou a soprar de frente. Já estava a dar a volta para oeste. Este nevoeiro manteve-se até bem tarde e acabou por ser também uma benção. Travou o calor do Alentejo e o dia não esteve, nem de perto nem de longe, tão quente como o ano passado.
Cheguei ao terceiro posto de controlo por volta das 9 da manhã. Tendo em conta que no ano passado cheguei por volta da hora de almoço, só tinha motivos para estar contente. Segundo pequeno-almoço tomado, uns alongamentos e dois dedos de conversa; apontei novamente a roda da bicicleta para a estrada, consciente de que o sobe e desce iria aumentar e o ritmo iria diminuir. Assim foi.
Comecei a ultrapassar e a ser ultrapassado pelo pessoal do norte, uma dança que durou grande parte do resto da viagem. Ninguém se esticava em demasiado, a não ser talvez o pessoal da frente que parecia que tinha asas nos pés mas esses nunca mais os tinha visto desde a meia-noite.
Sorri quando passei pelo local onde o ano passado fiquei a dormir uma hora. Por esta altura já apetecia tirar uma soneca. Mas este ano não. Tinha decidido que iria chegar de dia. Bastava fazer uma média de 20km/h para chegar às 20h e estava convencido que o iria conseguir.
Bem, entretanto o último posto de controlo em Viana do Alentejo. Não me lembro de todas as aldeias por onde passei mas sendo o Alentejo, não é só a paisagem natural ou agrícola que é interessante. As suas aldeias fazem-nos abrandar e apreciar os lugares por onde passamos.
Já não tinham sopa… contentei-me com um hambúrguer. Pensei “ando uns metros para trás e vou aos supermercados ou vejo o que há nos próximos lugares? … Ainda tenho água até à próxima, siga então”.
“Olhe, onde é que é o mini mercado?”, perguntei, “É ali mas a esta hora está tudo fechado!”, responderam. Mas é claro! Isto é o Alentejo!! E nenhum mal emprego nesta afirmação. O meu plano foi por água abaixo e lá fui relutante comprar água e comer mais qualquer coisinha no café. “Isto agora tem ali umas subidas mas depois é fácil”, diziam-me.
Cheguei então às ditas subidas. Depois de quase 300kms, a inclinação que se apareceu aos olhos não foi nada animadora mas lá teve que ser. A média ia baixando a pouco e pouco mas não havia motivo para alarme, afinal tinha dado um grande avanço durante a noite. Por esta altura já o sol batia forte mas não o suficiente para sufocar ou queimar a pele. E havia uma brisa fresca. Estava agradável.
Ora finalmente Montemor, outra vez. Fui buscar uns bolos que adoro mas estava a ver que me corria mal a festa. Devia ter optado por salgados, já comera demasiados doces e um bom pão tinha sido uma melhor aposta. As sandes que trouxera de casa já as tinha acabado à muito. Pensei que dali até ao final seria sempre a andar, um tiro. Não podia estar mais enganado.
O vento começou a bater mais forte, ia-me sentindo mais fraco subida após subida até que, mesmo à entrada de Vendas Novas, deu-me qualquer coisa que dei por mim a fazer subidas a 30kms/h. Durou pouco e depois de passar a povoação já estava outra vez com um ritmo desgraçado.
Depois da rotunda de Pegões piorou. Foi o pior troço de toda a viagem. O selim começava a ficar desconfortável e passava o tempo a tentar encontrar a melhor estratégia para pedalar contra o vento. Aqueles 50kms pareceram 200. Acabei por pedalar a maior parte do tempo em pé, apesar de plano, descansando por breves instantes para depois dar mais uns impulsos. Sentando ia morrendo aos poucos e nunca mais era.
Ver a rotunda que faz a ligação para Coruche é, para mim, um motivo de alegria. Isto acontece-me em todos os BRM que passam por aquela estrada.
Ainda não tinha colocado nenhum doping no sistema mas, de prevenção, tinha uma barra das boas guardada. Pensei que seria o momento ideal: já faltava pouco, o alcatrão era bom e ligeiramente inclinado. Tomei o doping e resultou por um bocado. Depois voltou tudo ao mesmo e os 8kms finais, de alcatrão degradado e transito intenso, não foram de todo agradáveis, com velocidades abaixo dos 15kms/h. De qualquer maneira estava descansado, tinha quase a certeza que ia cumprir o meu objectivo pessoal.
Cheguei por volta das 20:00, conforme tinha previsto. Um bocado abananado da cabeça, dos músculos, dos joelhos, enfim, pronto para me atirar para a relva e dormir.
Fui tomar um banho e esperei pelos colegas que entretanto chegaram e que também estavam acampados, para ir jantar.
Quando cheguei à tenda e me deitei, não consegui fazer praticamente nada. Simplesmente adormeci!
Não sendo um ciclista rápido, foi provavelmente a primeira e última vez que fiz um brevet assim. Para a próxima levo uma manta para me deitar um bocado, beber um copo de vinho numa tasca Alentejana e aproveitar todas as 27 horas do tempo limite.
A todos aqueles que tornam possível esta actividade em Portugal, um bem haja.
O jumento lembra-se que levou para este brevet:
- Meias suplentes quentes
- Luvas frescas
- Aquecedor para a tola
- Duas câmeras de ar
- Remendos rápidos
- Bomba
- Máquina fotográfica
- Saco com frutos secos
- Pão com doces, banana, ovo, etc
- Uma barra de doping
- Mini-Primeiros socorros
- Manta térmica
- Ferramentas, zips, whatever
- Parti com 1,65 litros de água
Além das luzes, telechaços e essas coisas. Faltou um pneu pelo menos. Pergunto sempre se é necessária alguma coisa ou se está tudo bem, a todos quanto encontro pelo caminho. Mas, digo-o em tom de aviso, não irei emprestar nada a quem eu consiga ver claramente que vai excessivamente leve 😉
Comments (6)
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Bela aventura. Parabéns por cumprires o teu objectivo.
Que máquina levaste?
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usaralho Resposta:
Maio 30th, 2013 às 1:40 pm
Uma estradeira sem marca visível, uma salganhada de componentes, relação de 2×5 com máximo de 21 dentes.
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Estás-te a passar!!! 21 dentes?!
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rui Resposta:
Julho 26th, 2013 às 3:37 pm
Ahaha.. o Alentejo é plano 😛
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