No ano passado tive a ideia de passar a ir a um encontro de bicicleta, na própria bicicleta. O encontro foi o da Burinhosa e este ano repeti e reforcei a dose. Não foram 60kms mas sim cerca de 170kms, de Aveiro à Burinhosa.
Sábado, 9:15 comecei a dar ao pedal. A bicicleta foi a mesma do ano passado, uma vulgar pasteleira com pintura YEYE, quadro sangal, 3 velocidades SA datadas de 1982. Um cesto de verga com algumas ferramentas e umas sandes fazia parte do equipamento seleccionado. Nada de muito espalhafatoso apesar de levantar alguns risos pelo caminho.
Por já partir tarde comecei logo em grande ritmo, para uma bicicleta destas claro, e num abrir e fechar de olhos pus-me no parque de campismo da Vagueira. Saindo de Aveiro em direcção à barra encontramos muitos betetistas de alcatrão e a presença de máquina antiga a assombrar as suas Santa Cruz de 2000€ não os deixa muito contentes. Paciência. Percorri parte do caminho da Clássica até Praia de Mira, meti por estradas esburacadas no meio da mata, não sem antes me enganar. Levava gps mas ia apenas a gravar o percurso, mal olhei para ele. Estas tais estradas, tem mesmo buracos enormes, consecutivos. Não se podem considerar estradas sequer. Ora este tipo de piso não traz muita saúde, quer para a bicicleta, quer para os braços e mãos. Lá pelo meio perdi um parafuso do guarda lamas traseiro e a pequena avaria foi reparada com um trapo, que ainda está na bicicleta!!

Bem, por entre os buracos lá chego próximo da Serra da Boa Viagem. Resolvi contornar a serra pelo lado do mar, ou seja pela praia de Quiaios. Este desvio permite fugir ao transito e suavizar a subida. Mesmo assim grande parte é feita a pé. Este caminho, na sua maior parte bonito, passa mesmo no meio do crime que é a exploração de cal pela Cimpor, uma enorme ferida na serra.
Figueira da Foz finalmente. Almoço e siga! Mais um bom bocado por estradas nacionais que tanto detesto até conseguir cortar em direcção ao Osso da Baleia, para me meter mais uma vez em estradas de mata até chegar ao Pedrogão. É preciso dizer que estão a ser construídas ciclovias nesta zona do Pedrogão e as estradas que o ano passado tanto me martirizaram estão agora muito melhores. O resto da viagem é a repetição do ano passado: ciclovias e boa paisagem!
A zona marcada a preto foi um grande desvio. Enganei-me numa rotunda e acabei por fazer uns kms a mais, por melhor estrada mas mais desagradável. Como se pode ver, é uma viagem bastante plana ou seria impossível de fazer só num dia neste tipo de bicicleta.
Objectivo cumprido! Estava na Burinhosa onde encontrei o organizador Rui em grande azáfama e outra grande amigo das bicicletas, o Jerónimo! Ora acontece que este tal Jerónimo já tinha feito 2200kms deixados um pouco por todo o pais. Os meus kms pareceram tão pequenos! Um grande bem haja a essa figura ímpar.
Quero agradecer tanto ao Rui, principal figura da organização, como aos seus pais que tão bem souberam acolher. Para mim, os três, são o motor deste encontro. Não parem, conseguem por de pé o que muitas organizações profissionais não conseguem tão bem. Depois de uma pequena ajuda nas inscrições que foram mais que muitas, só queria era cama e as instalações que nos arranjaram para passar a noite foram muito agradecidas.
Domingo, dia do encontro. Visto o traje com a minha companheira (que me deu apoio nesta pequena viagem), montamos as bicicletas, vamos tomar o primeiro pequeno almoço e siga para o segundo pequeno almoço que a organização oferece :P. Sabia que este ano iria ser diferente, sabia que a organização tinha seguido alguns concelhos dos participantes dos anos anteriores mas não esperava que o encontro se transforma-se numa festa. Logo à partida, a grande confusão para a fotografia, validação de inscrições, etc e tal deixava antever o sucesso (em participação) do encontro. A lembrar que este encontro têm um custo quase simbólico e nada comparável com outros encontros que visam somente o lucro. Durante o percurso quem ia no fim não conseguia ver o inicio do grupo. Não foram registados incidentes nem me pareceu existir álcool a mais. Até porque o sistema de senhas para as bebidas funcionou muito bem. Também não existiram engarrafamentos que causassem muito transtorno ao transito automóvel. Não que me preocupe muito com isso, quero que os automóveis se lixem mas para evitar confusão é melhor deixar os gordos descansados. Portanto até aqui tudo bem.
O almoço este ano foi no lugar de arranque o que facilita a logística por parte dos participantes e, em caso de abuso, ninguém vai andar de bicicleta a seguir. Ora a organização achou e achou muito bem que seria engraçado realizar esse almoço numa quinta. Não numa quinta a sério mas num daqueles espaços mais ou menos bem arranjados que usam para casamentos, baptizados e tragédias tais. E não é que funcionou muito bem? É preciso também agradecer ao proprietário do espaço. Os participantes puderam escolher entre a relva e várias mesas, aproximaram-se mais, ouve mais tempo para convívio mas daquele convívio verdadeiro, em que falamos verdadeiramente de bicicletas e não passamos o tempo a anunciar que a minha é maior que a tua. Pensando bem, nem passei muito tempo a olhar para as bicicletas, nem fotografias tirei. Podem ver algumas no Amigos das Pasteleiras. Foi realmente muito bom este convívio e foi o que fez deste encontro um grande encontro.
Estavam expostas algumas bicicletas, trajes e automóveis antigos. Nem sei bem se concordo muito com os automóveis mas tudo ajudou a criar um certo tipo de ambiente. A feira de peças correu às mil maravilhas, segundo me quis parecer, não vi os feirantes com muito tempo disponível. O encontro prolongou-se pela tarde fora e quando me vim embora, já perto das 18 se não me engano, ainda havia festa rija e molhada.. as atenções estavam viradas para a piscina.
Bem, existiu um momento, uma frase, que resume este encontro. Na manhã de domingo, adormeci. O grande Jerónimo acorda-me com um “Olha a festa, vamos para a festa”. Foi isso, uma grande festa da bicicleta.