Alemanha pode ser magnifica tomando os caminhos certos. Mas esses caminhos podem não ser os mais rápidos para o propósito da viagem. Recordo-me de encontrar uma rapariga a olhar para o GPS para perceber para onde ir de forma a evitar uma estrada mais rápida e movimentada. Também o tive que fazer mas decidi muito mais rápido que estrada tomar. Infelizmente a estrada transformou-se em caminho de pedra, não tendo outro remédio senão tomar a estrada principal com camiões perigosos. A maior parte das vilas não tinha nada onde tomar o pequeno almoço na manhã do primeiro dia depois do CP1, o que fez com que vários participantes se juntassem à primeira vista de café e bolos. A rapariga que tomou o mesmo caminho que eu, apareceu pouco depois e o pequeno almoço foi acompanhado por dois dedos de conversa. Estes pequenos encontros, ainda que raros, dão um alento estranho, mostram que as dificuldades que possas ter, por mais estapafúrdias que sejam, não te são exclusivas. Ainda assim, as frondosas florestas dos caminhos menos certos valem bem a pena. Recordo também o sul do país, perto da fronteira com a Áustria onde as encostas verdejantes e a promessa dos Alpes lá ao longe me punham um sorriso na cara. Ainda que continuasse com alguns problemas de navegação nomeadamente para evitar estradas movimentadas, a paisagem e andamento eram suficientemente bons para que isso fosse considerado um problema.
A travessia dos Alpes foi um pouco estranha, difícil com certeza, mas as paisagens entretém tanto que é como se a dor fosse secundária. Os problemas de navegação, secções de trânsito horrível, passagens difíceis, tudo parece agora uma memória distante, um sacrifício que repetiria num abrir e fechar de olhos. Não sei exactamente quanto tempo andei até parar numa pequena capela/cemitério lá pelo meio dos Alpes/Áustria, um pouco receoso do frio que poderia ter. Sei que jantei uma grande pizza e decidi continuar noite fora até se me faltar o espírito alerta necessário para continuar. Consegui abrigo nas paredes e telheiro da capela e lá se conseguiu dormir umas horas. A melhor coisa de acordar pelas 6 da manhã é apanhar as pastelarias acabadas de abrir. Os olhos iluminam-se com a promessa de café, comida e casa de banho. Ainda por cima tudo na Áustria é bom, limpo, bem cuidado, de uma beleza surpreendente!
A Itália também trouxe muito calor. Algures no norte de Itália sentei-me com um casal de viajantes de bicicleta enquanto me enterrava numa caixa de gelado que tinha ido buscar a um pequeno supermercado, depois de me encher de protector solar. Curiosamente não estava a encontrar gelatarias naquela zona de pomares e planície. Foi uma conversa agradável, tentei explicar o que estava a fazer e tentei saber o que eles estavam a fazer. Trocámos contactos e foi cada um à sua vida. Afinal, tinha que aproveitar o dia para tentar atingir o CP2.
Acabei por cometer o erro de ficar alojado numa pequena vila a poucos kms do CP2. O descanso foi bom e a vila Italiana agradável mas quebrei o andamento que tinha. Sei que outros também ficaram naquela vila e no mesmo alojamento. Aliás, foi um bocado impossível não pedalar com outros participantes e trocar umas palavras enquanto se pedalava por aquelas estradas que tantos tinham escolhido.
A manhã do dia seguinte trouxe o CP2 e um objectivo cumprido. Manhã difícil sem vontade, aqueles poucos quilómetros que me separavam do CP2 teimavam em não passar. O meu receio confirmou-se, tinha sido muito melhor continuar na noite até ao CP2 e tomar um banho e descansar já no destino. Enfim, fez-se e o que estava por fazer seria o problema maior.