Apesar de todo o mal que a igreja cristã conseguiu e consegue provocar ao longo de anos de fazei o que eu digo mas não fazei o que eu faço, é interessante observar o impacto que as histórias da carochinha tiveram na maneira de viver dos povos. O culto dos mortos de forma triste, mórbida e vá, um pouco descabida esteve sempre bem presente nas comunidades cristãs. Mais interessante ainda é observar os monumentos que exteriorizam esses cultos, mesmo que sejam sinais claros de ostentação.
As alminhas são pequenos monumentos aos mortos, pequenos altares e locais de oração. Muito frequentes em encruzilhadas podem ser construídas de diversos materiais e de diversas formas, conforme o período histórico e localização geográfica ou o objectivo especifico do monumento. As almas são as Almas do Purgatório sendo o Purgatório, segundo a doutrina cristã, como que uma sala de purificação/preparação para aqueles que já estão destinados ao paraíso. Adiante, das que vi até hoje lembro-me de umas construídas em capelinhas isoladas, outras enfiadas nas paredes das casas e muros, outras trabalhadas na rocha, painéis de azulejo pintados (que podem estar isolados ou dentro das versões anteriores) representando as almas no purgatório e divindades acima delas ou simplesmente em forma de cruz (não confundir com via sacra). A construção de monumentos de paragem e oração nos caminhos não é novidade cristã. Outras religiões mais antigas já o faziam de forma a obter protecção das suas divindades para o caminho, no entanto as alminhas não servem esse propósito; são simplesmente pontos de oração pelos mortos.

Ainda me lembro da minha avó paterna construir uma capelinha à frente de sua casa que ainda hoje é mantida. Não possui representações de almas mas tem representações de santos, velas a arder e flores como muitas vezes são encontrados nas alminhas mantidas pela população. Possui ainda no seu interior uma taça para esmolas que são depois utilizadas para rezar missas pelas almas do purgatório (uma missa encomendada custa um determinado valor). Penso que o crucifixo que está a meio seja bastante antigo. Aquando da sua construção e durante algum tempo depois muitas pessoas da aldeia juntavam-se para rezar em frente desta pequena capela, ao mesmo tempo que pagavam promessas maioritariamente em forma de bolos distribuídos pelos presentes.
Penso que existiram outras mas a ignorância ou a maldade foram apagando estes sinais da nossa cultura no entanto ainda consigo ver pelo menos um pequeno sulco numa velha parede.
Recentemente, numa caminhada pelo Caramulo encontrei um caso curioso. A mim parece-me alminhas mas as inscrições são dirigidas somente a uma pessoa, Carolina de Jesus, falecida em 20-2-948 (será 1948?). Talvez fosse alguém importante ou é simplemente um monumento a essa pessoa e não alminhas:

Seja como for, acho estes pequenos monumentos populares de grande beleza e importância histórica e cultural. No caso seguinte é clara a interpretação do monumento: dois anjos puxam duas almas do purgatório com a imagem de Jesus Crucificado ao meio.

Nem todas são pequenas existindo casos que se assemelham a pequenas capelas suficientemente grandes para comportar um adulto. Neste caso não percebo a construção de uma ao lado da outra, sendo a mais nova muito mais feia:

Para terminar e até porque não tenho mais fotos de exemplares diferentes fica outro tipo de construção de onde, infelizmente, o recheio já foi retirado:

Agora que faço este texto sobre este tema até talvez tire mais fotos às que encontrar e possivelmente colocarei online. Por favor, ao utilizar qualquer uma das imagens deixar um link para a origem.
Comments (3)
o facto de essas alminhas terem o nome da pessoa indica que essa pessoa faleceu nesse local
tempos em que se falecia em casa ou na rua.
actualmente pode ver-se esse tipo de alminhas monumentos…. nas bermas de algumas estradas onde aconteceram acidentes
carlos matos
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Sim, realmente não me lembrei que a pessoa pude-se ter falecido naquele preciso local. Bem visto.
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