
Fugindo à confusão do litoral, refugiei-me na serra do Caramulo durante uns dias e este foi um dos percursos que fiz.
O PR3 TND – Rota das Cruzes é um percurso pedestre que começa na vila do Caramulo, que se mostrou bastante calma, talvez por estarmos no Verão.
Atravessamos os jardins da vila em direcção às aldeias. Acabamos por encontrar as primeiras cruzes mais cedo do que pensamos, não sem antes sermos convidados a visitar a Igreja Matriz e a capela de S. Sebastião em Guardão. O caminho segue rodeado por uma série de Cruzeiros em direcção a Janardo.
Depois da entrada em caminhos mais agrícolas é tempo de reparar em pequenos pilares com os nomes das freguesias que participam na festa das Cruzes. Alguns podem estar um pouco tapados pela vegetação. Sem dar por isso estamos aqui estamos na capela de S. Bartolomeu e castro, pequeno monumento de interesse histórico gigantesco.
Festa das Cruzes
Ainda hoje, em quinta feira de Ascensão, na freguesia de Guardão, se dá continuidade à celebração da multi-secular Festa das Cruzes, cuja origem o tempo logrou em apagar. conta a tradição de a celebração de tal evento está relacionada com a expulsão dos mouros deste agreste território. Habitando este povo invasor numa das vertentes da serra do Caramulo, no lugar hoje ocupado pela capela de São Bartolomeu, constantemente fazia insvestidas às vizinhas populações cristãs, saqueando e destruindo os seus bens. Sabendo das atrocidades de que eram vitimas os seus irmãos na fé, vieram em seu auxilio os habitantes de Santiago, Santa Eulália e Castelões, armados de bestas, machados e forquilhas. A batalha foi de tal forma dura que o povo cristão se viu em apuros, tendo mesmo que implorar a intervenção divina. Saindo vitorioso, dirigiu-se em procissão à igreja matriz do Guardão, onde foi recebido num abraço de eterna gratidão. Ficou então a promessa de todos os anos irem ao local em romaria de acção de graças.
Não passa esta história de uma fantasia popular que, à semelhança de muitas outras, o povo criou e a Igreja, impotente perante a intransigência do povo tradicionalista, teve necessidade de cristanizar, levantando capelas perto de castros para que não se fizessem procissões a sítios pagãos.
A Festa das Cruzes está simplesmente ligada à antiga igreja matriz do Guardão, à qual acorriam várias freguesias por não haver outra por perto. Como boas filhas, as freguesias dependentes, em dia de Ascensão, levando as suas cruzes iam ao encontro daquela que era a sua mãe. No inicio participavam nesta festa cerca de doze freguesias; porém, hoje em dia, não vêm mais do que três.

De seguida descemos até ao rio Xudruro, atravessando a pequena ponte romana para voltar a subir até ao Carvalhinho, uma pequena aldeia tipicamente serrana. Estes são caminhos estreitos, agradáveis mas com os quais se deve ter algum cuidado devido aos desníveis das encostas.
Uma paragem para observar as vistas proporcionadas pelo espaço da capelinha e continuamos a subir até entrarmos novamente nos caminhos da serra.
Daqui até chegarmos ao Caramulo encontramos caminhos diferentes, sejam compostos por vegetação rasteira de montanha, sejam terrenos agrícolas cada um com um encanto próprio e acima de tudo muito bonitos, salpicados pelas localidades anteriores à vila. Num destes caminhos, entre os carvalhos, encontrei uma pista de downhill bastante simpática!
Já na vila, pode-se aproveitar para visitar o museu, coisa que não fiz desta vez.
Mais uma caminhada na Serra do Caramulo, bastante divertida, bonita e acessível que me faz gostar cada vez mais de pedestrianismo.
Localização do PR3 – Rota das Cruzes
Ficha técnica do PR3 TND – Rota das Cruzes