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Eu não disse que o Alentejo não perdoa? Foram muitos os erros que cometi na estreia do BRM YOYO 600 que também se podia chamar BRM Sobe e Desce.
Preparativos e A viagem para Alcácer do Sal
Não sou dos que mais longe do ponto de partida moro mas com o trabalho a acabar às 21, a opção foi sair em cima da hora e perder o mínimo de tempo possível, sem exagerar na velocidade. O jantar foi no carro, a cama foi os bancos do carro. Já dormi pior e a pagar. Estavam instaladas no parque de campismo várias tendas de colegas randonneurs mas à hora que chegava, não seria opção perder tempo com tendas e sacos cama. Foi parar o carro, comer e dormir.
Alcácer do Sal – Estremoz – Alcácer do Sal
Acordei com a chegada dos restantes colegas e o barulho de um pequeno avião que não consigo perceber como é permitido voar tão baixo em cidade àquela hora da manhã. Ao contrário do que é habitual, ainda tinha que preparar as tralhas todas para levar e tomar o pequeno almoço (esparguete, iogurte e banana). O carro iria servir de base e não levaria toda a tralha que seria necessária levar, por exemplo, num Portugal na Vertical. Se bem que isso pode induzir em erro, como vamos ver mais à frente.
Os primeiros quilómetros foram feitos na conversa mas acabei por me distanciar um pouco para percorrer sozinho o sobe e desce em direcção ao Alto Alentejo que não é de todo plano!
Não há muito para contar. Avancei devagar, ora por culpa das subidas, ora por culpa da preguiça mas lá cheguei a Estremoz, terra engraçada que merece uma visita mais demorada. Enchi o depósito com borrego e grão e fiz-me à estrada. A volta foi sem dúvida mais rápida ou assim me pareceu.
Alcácer do Sal – Sines – Alcácer do Sal
Parti confiante mas parece que cometi o erro de entretanto não comer mais nada ou até mesmo jantar. É que o caminho tem mais pinheiros do que locais onde se possa trincar alguma coisa. Acabei por parar numa Pizzeria onde se arrastavam algumas bebedeiras, provavelmente relacionadas com um jogo da bola qualquer importante. De qualquer forma achei piada à situação: um restaurante/bar catita, clientes arranjados para sábado à noite, vozes de fundo à tia e um gajo lá no meio vestido de licra com sal na cara e o cabelo com a forma do capacete.
Lá muito mais à frente encontrei colegas à entrada da via rápida por acabar que usamos para chegar a Sines. Pensei “só tenho 40kms de diferença para os próximos, porreiro!”. A situação iria mudar e de que maneira.
Furei a chegar a Sines mas ainda no escuro. A luz que supostamente seria para estas coisas, estava apagada, ao que parece levei uma pilha gasta, devo ter feito confusão. Ainda caminhei um pouco, já não deveria estar muito longe da iluminação publica mas depois lembrei-me da luz do telemóvel. Achei estranho furar com os Panaracer Pasela TG a menos que fosse um prego e realmente tinha razão. O furo foi do lado do aro, provavelmente stress da câmara de ar ou algo do género. A situação era a seguinte: tinha-me esquecido completamente que não tenho aperto rápido na roda da frente e não tinha ferramenta para a tirar; não tinha luz em condições; os remendos autocolantes não estavam a colar bem, já têm um ano e a cola deve perder o efeito. De alguma forma consegui por algum ar dentro do pneu para chegar a Sines onde os simpáticos senhores das bombas de combustível me emprestaram uma chave inglesa enorme!
Um pão com chouriço depois estava pronto para arrancar. Lição: pôr câmaras de ar nas rodas uma ou duas semanas antes dos brevets.
A entrada e saída de Sines é um pouco estranha e o pouco discernimento fizeram-me entrar na autoestrada mas reparei imediatamente no erro, tendo que fazer apenas 1km em contra mão. O pior mesmo é que não tenho via verde na bicicleta!
Foi-se andando, muito mais devagar do que deveria em parte por culpa do joelho esquerdo que teimava em chatear. A noite acabou por ficar bastante fria e quando fui para enfiar as luvas nos chispes levei uma chapada psicológica. Com a mania de levar apenas o essencial para cada troço, as luvas acabariam por ficar no carro. O frio continuou a apertar e deu-me a ideia luminosa de pôr os cobre sapatos nas mãos, serviriam de corta vento… se os tivesse levado! Lutei contra o frio da melhor maneira possível mas entrei numa espiral descendente. Quanto mais devagar pedalava mais frio tinha, quanto mais frio tinha mais devagar pedalava, se tentava pedalar depressa, a deslocação do ar congelava-me e enfiar as mãos dentro das mangas do casaco não era o suficiente. Apesar de estar bem vestido, as extremidades sofreram muito e o corpo acaba por arrefecer todo. Os quilómetros que deveriam ser bastante rápidos acabaram por ser uma pasmaceira. Acabei por me encostar às paredes abrigadas de um café, meio a tremelicar, enrolado sobre mim mesmo, ansioso pelos primeiros raios de sol. Eram umas 6 e pouco da manhã e por ali fiquei até descobrir uma pastelaria quentinha um pouco mais dentro da aldeia. Este tipo de situação tem um potencial perigo e é importante saber quando parar. Hipotermia não é uma situação a que se quer chegar, sozinho e por acaso sem a manta térmica de emergência.
Ainda fiquei mais um bom bocado na pastelaria, ponderando na continuação da minha aventura e a tentar fazer contas de cabeça. Entretanto a decisão foi tomada: iria pedalar com força, quanto mais quente, menos dores teria, se ia desistir ao menos que chegasse ao próximo posto de controlo dentro da hora!
Alcácer do Sal – Serpa – Alcácer do Sal
As contas que fiz de cabeça estavam mal feitas e ainda tinha hipótese de conseguir completar o Brevet. Porreiro. O meu joelho não gostou da noticia mas foi porreiro de qualquer forma. Importava a partir daquele momento optimizar todos os minutos das paragens, tinha tempo mas não tinha muita margem de manobra, ainda por cima se me acontecesse algo do género da noite. Dois pratos de massa, sumo e batatas fritas serviram de pequeno almoço. A roupa da noite ficou no corpo do porco, enfiei mais algumas tralhas na mala e siga!
Assim que apareceram as primeiras subidas apercebi-me que cometera mais um erro. Faltou-me o café depois do pequeno almoço e não conseguia fazer as subidas com um ritmo apropriado ao tempo que me restava. Felizmente as descidas ajudavam a ganhar terreno se bem que também pensava “vou ter que subir isto quando voltar”. Além disso, o joelho piorara.
Paro em Torrão e eis que então os ventos da sorte começam a soprar a meu favor. Um café, um Corneto de chocolate e 10 minutos sentado ao sol, num banco feito de sobreiro e Alentejo. Foi tudo o que foi preciso para disparar por montes fora. Os joelhos, estranhamente, melhoraram bastante e isso faz-me uma diferença brutal! Poder pedalar à vontade e despejar toda a força que tinha, por muito pouca que fosse, fez-me sentir muito bem. Não tarda estava em Beja, ajudado pelo vento que soprava generosamente pelas costas.
Serpa é que já me pareceu um pouco mais longe e os automóveis a grande velocidade também não ajudavam a levantar a moral. Mas lá se chegou ao destino. Uma sopa, uma sandes de presunto e mais um café foram o combustível para a primeira parte do regresso que não começou muito bem.
Vento e subidas, foi esta a receita básica para a viagem de volta. Demorei um monte de tempo a chegar a Ferreira e depois disso já não estava com a mesma força. Comecei a pensar que realmente não conseguiria acabar o brevet a tempo mas mesmo assim esforcei-me por andar relativamente depressa, na medida do possível depois de 500kms nas pernas. Às tantas já entrava em modo de piloto automático… e o que quero dizer com isto? Dou este nome àquele estado em que os olhos seguem as marcações no alcatrão junto à roda da frente (ou mesmo junto ao pedaleiro) mas raramente olho para a estrada… quem quiser que se arrede!
Finalmente e novamente, a vila de Torrão. Olhei para as horas e voltei a acreditar. Enfiei no bucho a pior bifana que comi até hoje assim como o pior café que tomei até hoje e montei na bicicleta, com um suspiro que me dizia que a partir dali tudo mudaria outra vez. E mudou. Os próximos 35kms seriam para dar tudo por tudo, para pedalar em recta, em subida e em descida, para sentir os músculos doerem a cada pedalada, em vez de pedalar em pé a subir, empurrar as pernas com o tronco, agarrado aos drops com a respiração sincronizada com as pernas. O que me pareceu tão rápido e com tanto esforço, na verdade foi uma média de apenas 24kms/h mas que me deu avanço suficiente para deixar-me levar nos últimos quilómetros, sem preocupações de maior, a saborear devagar a chegada.
Faltavam cerca de 30 minutos para as 40 horas quando cheguei ao parque de campismo de Alcácer do Sal. Estava feito.
Mazelas
No Portugal da Vertical do ano passado fiquei um bocado mal no final. Este ano, apesar de ainda andar com o sono trocado, o único problema de maior são os lábios extremamente secos e algumas dores musculares.
Custos
Não há grande volta a dar. A brincadeira não fica barata. Mesmo levando comida é necessário ir comprando pelo caminho e os cafés e restaurantes são os pontos mais acessíveis. Mini mercados são uma óptima opção mas é preciso encontrá-los e podem não estar abertos. Os supermercados na maior parte das vezes não são opção a menos que seja um grupo de dois ou três ciclistas. Temos ainda que contar com viagens, estadias e alimentação fora do brevet.
Um colega disse na Segunda de manhã algo que resume este ponto “um gajo mete um monte de notas de 20€ no bolso e no fim não sabe delas!”
E agora?
Agora espero fazer sopinha para o Portugal na Vertical e ficar à espera deles, os ciclistas, noite fora! Quanto aos próximos brevets que farei não posso adiantar grande coisa. Deveria fazer o de 1000kms mas como tudo dependendo de voluntários e disponibilidade, vamos ver o que acontece.
Sinto-me um pouco mais perto do Paris-Brest-Paris mas não me sinto de forma nenhuma preparado e isso assusta.