Ora já à algum tempo que andava com a ideia de usar a bicicleta pasteleira numa viagem de alguns kms. Não apenas por ser uma bicicleta antiga mas por ser o meio de transporte dos meus avós. Queria saber como era. Não levar GPS nem roupa apropriada, não contar com carro de apoio nem com não sei quantas mudanças para facilitar todos os obstáculos. Com o aproximar do Encontro Nacional de Bicicletas antigas na Burinhosa pensei em juntar as duas coisas. Assim sendo às 5:15 da manhã do dia 26, boné na cabeça, mochila no suporte, fiz-me à estrada.
O inicio teve lugar nas redondezas da vila de Louriçal, vila que remonta ao século XII e que possui como principal interesse turistico um convento do século XVII assim como um aqueduto que a este levava água. Infelizmente não está nas melhores condições e segundo consta o convento vai perdendo aos poucos muita da sua beleza por falta de fundos. Não que se possa ver, pois é um convento activo de clarissas e só alguns privilegiados podem entrar, penso eu.
Bem, à frente. Ainda era de noite e o meu dínamo e farol são só de enfeitar. Mas aquela hora o perigo seria pouco. Apenas um padeiro ou alguém que saiu mais tarde da discoteca. Fora esses, só os morcegos e os ouriços se cruzavam comigo.
A primeira dificuldade surgiu na subida para o Outeiro do Louriçal, que como o nome indica é um monte. Com outra bicicleta não seria um desafio. No entanto com a bicicleta pasteleira a pesar uns estimados 20kg tive que pedalar um bom bocado em pé e o suor começou a querer dar luta à aragem fresca da madrugada. Um cão que resolver perseguir-me as pernas ajudou. Ultrapassada a subida, depressa me pus na N109 apenas para percorrer uns metros até ao corte para o Carriço.
Era hora de novo desafio. A estrada dentro da mata nacional é bastante esburacada. Apesar do quadro da bicicleta absorver bastantes vibrações e o selim mais parecer um sofá, não é o suficiente para piso verdadeiramente em mau estado. Mesmo assim a bicicleta pasteleira é rainha em conforto! Por esta altura a paisagem pouco muda. Pinheiros e mais pinheiros, um ou outro coelho a atravessar a estrada. Entretido com o caminho ou com os meus pensamentos não me pareceu tarde quando vi o mar de um pequeno alto. O caminho, apesar de em mau estado, é na sua maior parte plano. Uma descida e vi-me novamente envolvido em pinheiros com o mar à minha direita.
De repente vejo uma lagoa. Penso ‘boa, vou parar aqui’. Mas assim que paro ‘lagoa… qual lagoa, eu não queria passar por nenhuma lagoa’. Parece que me enganei e fui ter à lagoa da Ervideira. Bem, agora era seguir para o Pedrogão. A estrada piorou bastante antes de lá chegar e foi um alivio ver a estrada nacional.

Agora em piso liso era só rolar. A estrada entre Pedrogão e a Praia da Vieira pode ser perigosa para ciclistas mas naquela hora da madrugada continuava praticamente sozinho. Apesar de só ter 3 mudanças a bicicleta pasteleira desloca-se bem em alcatrão e o seu peso embala-a nas descidas o que permite fazer boas médias. E na verdade eu queria era entrar na ciclovia que me iria fazer sentir mais seguro. E ela ali estava!
Esta ciclovia, se não estou em erro, de nome Atlântica liga a Praia da Vieira a S. Pedro de Moel estando grande parte da paisagem a cargo do pinhal mandado plantar pelo Rei D. Dinis. Esta ciclovia é uma enorme recta que acompanha a estrada nacional, praticamente vazia, ladeada por flores selvagens, com paragens de tantos em tantos kms compostas por um banco e um mapa, tudo ainda em bom estado. Uma viagem que se recomenda.

Chegado a S. Pedro de Moel optei por seguir em direcção à Marinha Grande, ainda por ciclovia e depois cortar para a Burinhosa, o meu destino, retomando as estradas acidentadas.
Cheguei à minha meta pouco passava das 9 da manhã. O dia ia ser dedicado às bicicletas antigas mas disso falo amanhã. Foram 60kms fáceis, com tshirt e calça de ganga. O selim antigo, autentica obra de arte no que a conforto diz respeito tratou do resto.
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